sexta-feira, 29 de maio de 2009

A Mata Atlântica por um fio

Nesta semana foi divulgado mais um importante estudo com informações preocupantes sobre o nosso meio ambiente. Desta vez a má notícia é relativa à Mata Atlântica. Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e da Fundação SOS Mata Atlântica revelam que, de 2005 a 2008, foram destruídos 103 mil hectares dessa importante floresta brasileira. São mais de 34 mil hectares por ano. Perdeu-se em apenas três anos uma área equivalente a dois terços da capital de São Paulo.

A Mata Atlântica já foi a segunda maior floresta tropical da América do Sul, percorrendo toda a linha do litoral brasileiro. Desde o descobrimento ela sofre uma destruição constante e que se agravou bastante a partir da metade do século passado. Este estudo divulgado na última terça-feira comprova que a destruição adentrou este século 21.

Desde 2000 a taxa de desmatamento mantém um ritmo veloz e inalterado. O mapeamento foi feito em dez dos dezessete estados brasileiros que contam com o bioma, cobrindo os estados mais populosos do país.

Estes números devem ser vistos ainda com maior preocupação quando levamos em conta que o que restou não permanece em faixas contínuas. A mata foi feita em pedaços. Dos 233 mil fragmentos florestais com mais de 3 hectares existentes, só 18,4 mil são maiores que 100 hectares.

Dos 131 milhões de hectares que havia na época do descobrimento, a área foi reduzida a 11,4%, se considerados os fragmentos de floresta acima de 3 hectares. Mas, considerando apenas fragmentos com mais de cem hectares, o que resta da Mata Atlântica cai para 7,9%.

Portanto, o que sobrou sobrevive na forma de ilhas isoladas de florestas. Isso torna ainda mais difícil a manutenção da biodiversidade, já que em áreas menores é mais difícil a sobrevivência das espécies, aumentando também a dificuldade da preservação, já que estes trechos isolados acabam mais expostos a pressões ambientais.

E também quando se fala em Mata Atlântica não se deve pensar em uma floresta isolada dos grandes centros habitados. Um fator diferencial desta floresta na comparação com a Amazônia é que grandes cidades, como São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba, estão nas beiradas deste importante bioma que abriga nascentes e fluxo hídrico essenciais para a existência destas localidades.

O avanço descontrolado sobre esta porção de biodiversidade, portanto, deve trazer as mesmas conseqüências de todo impacto ambiental em qualquer floresta, com a diferença de os efeitos serem imediatos. A disponibilidade de água e chuvas, por exemplo, depende diretamente da manutenção do que sobrou da Mata Atlântica.

Segundo o estudo, a floresta, ou o que resta dela, está próxima de uma população de mais de 120 milhões de pessoas, nas principais capitais e grandes metrópoles vizinhas da Mata Atlântica.

O levantamento concluiu que as áreas mais críticas para a conservação da Mata Atlântica são em Minas Gerais, com 32,7 mil hectares de desmatamento, Santa Catarina, com 25,9 mil, e Bahia, que desmatou 24,1 hectares, sempre nos três anos analisados pelo estudo. Paraná, Rio Grande do Sul, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro, Goiás e Espírito Santo, provocaram juntos o desmatamento de uma área de 20.683 hectares.

O estudo do Inpe e da Fundação Mata Atlântica vem reforçar a necessidade da criação de políticas ambientais sérias, tanto no nível federal, quanto no âmbito dos estados. O modelo seguido até agora chega a ser autofágico. Em Minas, tomando como exemplo onde mais se desmata, a destruição se deve à exploração de carvão vegetal para a siderurgia.

Já passou da hora de se compatibilizar o progresso com a sustentação ecológica. Na verdade, este nem é mais exclusivamente um tópico econômico, já que a questão passou a ser mesmo de sobrevivência. Por fim, é de se perguntar o que vale acumular riqueza econômica com um processo que, logo mais, pode deixar os seres humanos sem meios para manter a própria vida.

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