domingo, 21 de dezembro de 2008

Mais de 90% das cidades brasileiras têm problemas ambientais

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelou em sua Pesquisa de Informações Básicas Municipais (Munic), divulgada no final da semana passada, que mais 90% dos municípios brasileiros estão com problemas ambientais. O estudo anual do IBGE investiga a gestão pública e também os temas meio ambiente, transporte e habitação.

As informações trazidas pelo IBGE são preocupantes, tanto pelo percentual elevado de cidades que apresentam sérios problemas ambientais, quanto pela falta de atenção para a questão nas administrações municipais. A degradação do meio ambiente vem se agravando nos últimos anos sem que haja a conseqüente dedicação dos municípios para enfrentar o problema.

O estudo revela também números altos na poluição da água, que vem aumentando de forma acelerada desde que a pesquisa começou a ser feita. Esta é a sétima edição da pesquisa e o tema do meio ambiente foi examinado pela primeira vez em 2002.
Desde então, vem aumentando a incidência de poluição da água nos municípios. Em 2002 já tínhamos um percentual bem alto, de 38,1%, que saltou para 41,7% em 2008. E mesmo problemas que apresentaram crescimento menor no período −como o do assoreamento de corpos d’água (baía, lagoa, rio etc.), que foi de 52,9% em 2002 e de 53,0% em 2008 – também trazem números inquietantes, pois mesmo que estacionários, ainda são muito altos.

Em conjunto com gravidade da situação, o IBGE detectou também que na administração pública das nossas cidades praticamente inexiste a consciência da necessidade da criação de políticas ambientais de forma real, com resultados verdadeiros.

Apenas 18,7% dos municípios brasileiros têm estrutura adequada para lidar com problemas ambientais. Isso apesar da pesquisa constatar que quase 80% dos municípios têm algum órgão dedicado ao meio ambiente, mas aí sabemos muito bem o que acontece: é o tema do meio ambiente sendo usado apenas como demagogia e para efeito eleitoral. E outro número da pesquisa confirma isso: em todo o país, funcionários municipais na área de meio ambiente são apenas 0,8% do quadro total.

A desproporção entre a incidência de problemas e a existência de políticas relativas ao seu enfrentamento é presente em toda a pesquisa, que é bastante ampla, com 244 páginas. Evidentemente nos concentramos no tema básico do Movimento Água da Nossa Gente, um aspecto dos problemas ambientais no Brasil que infelizmente os números do IBGE mostram que está cada vez pior.

Em todo o Brasil, 40,8% de municípios informaram escassez do recurso água, ou seja, quase metade do Brasil já sofre o problema. Entre as regiões mais atingidas pela escassez, há uma surpresa: o Sul, com 53,5% aparece à frente do Nordeste, que está com 52,3%. Aqui em nossa região, o problema é mais sentido em um conjunto de municípios de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Já no Paraná, a ocorrência de maior impacto observada com freqüência no meio ambiente foi assoreamento de corpo d’água e em segundo lugar a escassez de água.

São números que exigem bastante reflexão e muita, mas muita ação mesmo. Não é uma realidade desmotivadora, longe disso, pois o ser humano deve se mover de modo ainda mais ativo e transformador quanto piores são as notícias. Não devemos nos enganar vendo marolinhas onde podem estar sendo gestados maremotos destruidores. É sempre mais produtivo enfrentarmos a realidade de frente, atentos às piores previsões, até mesmo para que elas não se realizem.

O que temos aí exige mais organização, maior debate e difusão das informações e muito empenho da sociedade civil em uma pressão constante sobre nossos representantes em todas as esferas da máquina pública.

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