terça-feira, 30 de junho de 2009

Plano Municipal de Saneamento exige transparência

O encontro de autoridades municipais de Cornélio Procópio com a diretoria da Sanepar, noticiado em primeira mão pelo Movimento Água da Nossa Gente, aconteceu na última quinta-feira na sede da prefeitura.

A reunião teve a participação do prefeito Amin José Hannouche (PP), da diretoria da Sanepar e dos vereadores Edimar Gomes Filho (PPS), Sebastião Angelino Ramos (PTB) e Helvécio Alves Badaró (PTB), presidente da Câmara, além dos gerentes regionais de Londrina e de Cornélio Procópio. O diretor presidente da estatal, Stênio Jacob, também participou do encontro em que foi discutida a criação do Plano Municipal de Saneamento, uma exigência de lei federal relativa ao saneamento básico. Uma nova reunião está marcada para esta quarta-feira, 1º de julho.

A Lei 11.445/07, que entrou em vigor em janeiro de 2007, estabelece diretrizes nacionais para o setor do saneamento básico. A lei nasceu de um processo demorado que levou cerca de 20 anos e mesmo depois de votada pelo Congresso Nacional ainda sofreu vetos presidenciais.

Com a lei, o conceito de saneamento básico tornou-se mais abrangente. Além da água e do esgoto, passou a alcançar também a limpeza urbana, o manejo de resíduos sólidos e a drenagem e manejo das águas pluviais urbanas. Daí a exigência da execução de um plano de saneamento pelo município.

Nessas duas décadas a regulação sobre o saneamento era cobrada por todos os setores que se dedicam ao tema. Ainda não há uma concordância sobre o efeito da lei, que destaca o objetivo que, ao menos em tese, é o objetivo de todos os que debatem a questão: a universalização do acesso ao saneamento.

Nos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, estabelecidos pela ONU, o Brasil se comprometeu com a universalização dos serviços até 2024, compromisso que pelo que se vê no plano federal certamente será mais um dos que não serão cumpridos pelo país.

Neste aspecto, Cornélio Procópio vive uma situação privilegiada. A cidade praticamente já alcançou a universalização, o que explica a popularidade da Sanepar entre a população, sendo também uma das razões para o apoio do Movimento Água da Nossa Gente à manutenção da concessão do serviço com a empresa pública estadual.

Outro avanço importante da Lei 11.445/07 é o controle social sobre os serviços de saneamento básico, garantindo à população um amplo acesso às informações sobre o conjunto dos serviços, além de participação nos processos relativos à formulação de políticas, de planejamento e de avaliação relacionados aos serviços públicos de saneamento básico.

Esta parte da lei, por sinal, é um instrumento fundamental para a qualidade do serviço e do bom andamento de um setor que toca diretamente no ciclo hidrológico de toda a região, um bem comum vital e em processo de grave risco em todo o planeta.

Uma gestão eficiente da água e esgoto no meio urbano afeta toda a ecologia, especialmente em relação aos mananciais, fontes, rios e toda a água em torno das cidades. O saneamento básico é o ponto de apoio indispensável para a preservação do meio ambiente.

O Movimento Água da Nossa Gente espera que haja em torno do Plano Municipal de Saneamento não apenas a transparência exigida em qualquer ato da administração pública, mas que também seja estimulada a participação da sociedade conforme prevê a lei 11.445/07. A definição desse procedimento democrático em lei certamente veio do entendimento de que só com a participação popular é possível a confecção de uma política hídrica que respeite a água como um bem comum.

A aplicação da lei do saneamento deve ser feita de acordo com um método democrático e transparente. O assunto exige maior divulgação e também um chamamento à participação da sociedade civil. O Plano Municipal de Saneamento pode vir a ser um bom instrumento da democratização da política hídrica do município.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Novidades sobre as negociações com a Sanepar

O Movimento Água da Nossa Gente tem acompanhado o desenvolvimento das negociações entre a estatal paranaense Sanepar e a prefeitura de Cornélio Procópio que tem como finalidade a renovação do contrato de concessão do serviço de água e esgoto do município.

O contrato com a empresa foi feito há 30 anos e venceu em 2006. A Sanepar estabeleceu uma qualidade de serviço no município que, no aspecto técnico referente ao número de pessoas atendidas e qualidade no atendimento, está em nível europeu.

As negociações se arrastam há cerca de três anos e neste período surgiu até mesmo a suspeita de que haveria a intenção por parte da prefeitura em privatizar os serviços. Por sinal, foi a preocupação da sociedade civil com a possível perda deste bem comum dos procopenses um dos motivos que levou à criação do Movimento em novembro de 2007.

No início desta semana obtivemos a informação de que por estes dias o processo de negociação deve ter passos importantes e que até podem ser decisivos, ou pelo menos devem estabelecer com mais precisão a posição da administração municipal quanto a este importante serviço público. Sobre o comportamento da Sanepar não existe dúvida alguma. Sua diretoria tem sido transparente na negociação, observando respeito aos procedimentos e mantendo tanto os funcionários da empresa quanto a opinião pública bem informados sobre o andamento do trabalho.

No município, optou-se por entregar à Câmara Municipal o encargo de elaborar um documento que poderia ser tomado como base da negociação, trabalho que ficou a cargo do presidente da Casa, Helvécio Alves Badaró. Conforme o que soubemos, o encontro que pode ocorrer ainda nesta quinta-feira em Cornélio Procópio reuniria a diretoria da Sanepar, o prefeito de Cornélio Procópio e o presidente da Câmara Municipal para a discussão sobre o documento que já está concluído.

Em conversa com o presidente da Câmara, fomos informados de que ele buscou um equilíbrio entre os interesses de ambas as partes para chegar a um acordo que possibilite enfim a assinatura da concessão.

Uma proposta razoável vinda do Legislativo pode realmente ser o encaminhamento que faltava para definir de vez a concessão do serviço de água e esgoto do município e acabar com rumores políticos em torno de uma questão tão essencial.

O Movimento Água da Nossa Gente acompanha com atenção o assunto e estará, como sempre, trazendo informações com qualquer novidade que surja. Um elemento vital como a água exige esta transparência.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

O fim do mundo em um relatório dos EUA

O governo dos Estados Unidos emitiu nesta semana o mais forte sinal de que a posição do país em relação aos problemas ambientais do planeta sofreu de fato uma forte mudança com a eleição de Barack Obama. Ao mesmo tempo, a Casa Branca trouxe subsídios que revelam os efeitos do aquecimento global já presentes de forma preocupante naquele país.

Um relatório divulgado na terça-feira pela Casa Branca começa a dar um novo tom para a questão. O estudo, chamado “Os impactos da alteração global do clima nos EUA”, foi coordenado por dois dos mais importantes organismos de monitoramento ambiental do país, a Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera (Noaa, na sigla em inglês) e o Laboratório Marinho e Biológico de Woods Hole. O trabalho tem também a parceria de 13 agências e departamentos de Estado.

O impacto ambiental revelado pelo estudo pode ser medido pelos depoimentos de seus autores durante o lançamento, como o de Jane Lubchenco, diretora da Noaa, que foi bastante clara quanto à necessidade de tratar o aquecimento do clima como um problema real do cotidiano: “Este relatório provê informações científicas concretas que dizem, sem margem de erro, que as mudanças climáticas estão acontecendo agora, nos nossos quintais, e afetam as coisas com as quais as pessoas se preocupam em seu cotidiano”, ela disse.

Thomas Karl, diretor do Centro de Informação Climática do Noaa e um dos principais autores, foi na mesma linha de convencimento de que o problema já está inserido no dia a dia: “Gostaríamos de deixar claro que as mudanças climáticas já estão em curso e afetam nossas vidas. Não se trata de um fenômeno restrito às geleiras do Ártico”.

O relatório informa que o país já sofre alteração em rios e com tempestades mais frequentes, além de aumento de temperatura e do nível dos oceanos. Os efeitos do aquecimento já estão acontecendo agora. Como disse outro autor, Anthony Janeto, “não se trata de algo teórico que acontecerá em 50 anos”.

Já as previsões para o futuro, caso não aconteçam ações imediatas, estão além da imaginação de roteiristas de filme-catástrofe. O relatório estima que até o final do século a temperatura média dos Estados Unidos estará 11°C mais alta.

A água será um problema com efeitos variados. Vai fazer falta no sudoeste do país, que pode se tornar seco e quente, afetando o meio ambiente de forma gravíssima. E a costa leste sofrerá bastante com a subida dos oceanos.

Também em razão da elevação dos oceanos, os autores prevêem que Nova York e Los Angeles serão parcialmente submersas. Temperaturas altas destruirão pântanos e a agricultura da Flórida e deixarão os Grandes Lagos mais vazios. Ainda em razão do calor, Chicago estará quentíssima e os vinhedos da Califórnia serão extintos.

Levando em conta como estará a humanidade depois do percurso até estes tempos dramáticos que o estudo prevê, é uma visão do fim do mundo. É a primeira vez que um documento oficial do gênero, o primeiro do governo Obama, dá tamanho peso aos problemas causados pelo aquecimento.

A administração anterior, de George W. Bush, não só evitou o estabelecimento de limites para a emissão de gases do efeito estufa, negando-se a participar do Protocolo de Kyoto, como até estimulava de forma política e financeira a indução na opinião pública de que

O governo chegou a contratar institutos de pesquisas para a divulgação deste tipo de tese. E esta visão manipulada e equivocada evidentemente se espalhou pelo mundo, com influência inclusive sobre a mídia, a classe política e a opinião pública no Brasil.

O relatório da Casa Branca mostra que é provável que esteja enfim acontecendo uma mudança de rota na política dos Estados Unidos para o meio ambiente, o que pode trazer alguma esperança para a humanidade. Afinal, pelo efeito de sua economia sobre o planeta e por seu poder tecnológico e militar, sem o empenho dos Estados Unidos a questão climática jamais terá solução.

sábado, 13 de junho de 2009

Uma MP contra a Amazônia

Está nas mãos do presidente Lula para que ele dê a assinatura definitiva uma Medida Provisória que pode ser determinante para o futuro da Amazônia. Lula pode vetar as partes mais criticadas ou aprovar integralmente a MP, o que seria, na visão de um analista com a experiência política de Janio de Freitas, “como o primeiro grande passo legal para o futuro confronto de iniciativa internacional, e talvez bélica, contra o Brasil”.

O teor da chamada MP da Amazônia, que nasceu no Palácio do Planalto, recebendo depois suspeitas alterações no Congresso Nacional, justifica o temor do veterano jornalista da Folha de S. Paulo. A sanção presidencial pode muito bem ser recebida como um sinal de apoio à destruição de uma floresta que é vista de forma unânime pela comunidade internacional como um território a ser preservado.

Já é bastante estranho que para tratar de uma questão que merecia um debate profundo envolvendo toda sociedade civil o governo tenha usado uma Medida Provisória, instrumento que é alvo de críticas até do Congresso Nacional. Desta vez, no entanto, a classe política não mostrou desacordo.

A medida, também conhecida como “MP da Grilagem”, foi enviada por Lula à Câmara Federal, onde sofreu alterações e seguiu para a apreciação do Senado, onde teve rápida aprovação com a manutenção integral do texto emendado pelos deputados.

O projeto teve como relatora a senadora Kátia Abreu, presidente da Confederação Nacional de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e integrante da bancada ruralista no Congresso, que teve sua nomeação para a relatoria colocada sob suspeita por ambientalistas, que alegaram conflito de interesses em vista do teor da matéria.

A senadora, de fato, não tem mostrado isenção nos assuntos ruralistas, mesmo quando referentes ao horror do trabalho escravo. Em recente debate no Senado sobre o assunto ela chegou a afirmar que “o que pode ser degradante para um trabalhador do Nordeste pode não ser degradante para um trabalhador do Sul.”

A MP da Amazônia nasceu com a justificativa de regularizar as ocupações feitas por pequenos agricultores, mas o resultado final permite a doação e a venda de áreas imensas, muitas delas provavelmente ocupadas de forma criminosa.

A MP permite a regularização de áreas de até 1.500 hectares em terras ocupadas antes de 2004, beneficiando pessoas físicas e jurídicas que exerçam a exploração direta ou indireta dessas terras.
Na origem, as terras legalizadas só poderiam ser vendidas dez anos depois da titulação. Os deputados diminuíram o prazo para apenas três anos. A senadora Marina Silva PT-AC), ex-ministra do Meio Ambiente, apresentou um destaque com a volta da obrigatoriedade de dez anos. Outro destaque da ex-ministra impedia que fosse beneficiada a ocupação indireta. Ambos foram rejeitados.

A proposta permite a venda da terra três anos depois de tituladas, coincidente com o início do pagamento de terras com extensões de até 1.500 hectares e que podem ser parceladas em até 20 anos. Ao todo, a medida abrange 67 milhões de hectares, no que é visto como uma das maiores privatizações de terras públicas já acontecidas no país.

Segundo o jornalista Janio de Freitas, a área abrangida pela MP “já foi comparada ao tamanho do Paraná”. Marina Silva, que conhece de perto o drama das ocupações de terras em áreas cobertas de florestas, disse que o texto abre brechas para que "aqueles que cometeram o crime de apropriação de terras públicas sejam anistiados e confundidos com posseiros de boa fé".

A ex-ministra, fundadora do PT e aliada histórica de Lula, disse em entrevista à revista Época desta semana que a MP “foi a pior iniciativa do governo Lula até hoje”. Marina Silva foi ministra do Meio Ambiente desde o início do primeiro mandato de Lula até maio do ano passado, quando pediu demissão depois de uma clara derrota na definição dos rumos da política ambiental do governo.

Desde que a MP da Amazônia começou a sofrer alterações na Câmara, a senadora e ex-ministra vem dizendo que iria pedir ao presidente Lula que ele vete os artigos que permitem a utilização indevida de terras públicas. Tomara que Lula a ouça pelo menos desta vez. Ou os problemas da Amazônia, que já não são poucos, terão mais este agravamento.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Um dia para comemorar no futuro

Neste dia 5 de junho comemora-se o Dia Mundial do Meio Ambiente. Mas o que poderia ser a ocasião de uma bela celebração acaba trazendo graves preocupações e o sentimento de pesar pelo pouco que foi feito nesses quase quarenta anos da instituição desta data.

O Dia Mundial do Meio Ambiente surgiu há 37 anos, na Conferência das Nações Unidas Sobre o Meio Ambiente, realizada em Estocolmo, capital da Suécia. De lá para cá, entretanto, a trajetória da humanidade tem sido de desacertos em relação às medidas necessárias para a proteção do ambiente global e a instalação de um desenvolvimento em harmonia com a ecologia.

Neste período aconteceram até uma série de entendimentos internacionais com base nos riscos ambientais, com a assinatura inclusive de acordos da importância do Protocolo de Kyoto, sem que, no entanto, tenham sido tomadas medidas práticas pelo conjunto das nações.

O protocolo de Kyoto é de um peso altamente simbólico desta frustração. É um exemplo forte da dificuldade humana em atacar de forma objetiva problemas que colocam em risco a nossa própria existência. Firmado pela maioria das nações para estabelecer metas de redução na emissão de gases que provocam alterações climáticas no planeta, o acordo já de início teve sua aplicação prejudicada com a retirada dos Estados Unidos, país com um peso histórico na degradação ambiental do mundo e com altíssima taxa de emissão de gases, superado só pela China a partir de 2007.

A participação dos EUA foi confirmada pelo governo Clinton em 1998, mas em março de 2001 o país se retirou sob o comando de George W. Bush, com a alegação de que seu cumprimento prejudicaria a economia norte-americana.

Quando ocorreram as negociações para o Protocolo, as descobertas sobre o impacto das ações do ser humano no clima do planeta levaram especialistas a afirmar que as mudanças de temperaturas teriam um peso superado somente por uma guerra nuclear.

Ainda não estamos vivendo tal drama, mas o que ocorreu de lá pra cá foi um aumento do problema climático mundial, com consequências que já podem ser sentidas até mesmo em cidades brasileiras.

O próprio Protocolo de Kyoto chega ao fim sem o cumprimento de quase a totalidade de suas resoluções.

É muito tempo perdido. E considerando as quase quatro décadas decorridas desde a criação do Dia Mundial do Meio Ambiente, o desperdício pode até ser superior aos anos que temos pela frente para recuperar as perdas.

O que se produziu até agora — em paralelo à intensa discussão sobre a tragédia ecológica que se desenha — foi o crescimento e a aceleração da poluição do ar, dos mares e da água, além de um aumento assustador do desmatamento.

A exploração dos recursos naturais seguiu no mesmo ritmo, com a devastação da natureza em vastas porções de territórios de variados países, trazendo a escassez de água e o surgimento de imensas extensões de terra onde nada mais se produz e nem ocorrem mais os naturais processos de recuperação. A ganância leva também ao esgotamento das reservas mundiais de minérios essenciais para o nosso bem estar e insubstituíveis na manutenção das novas tecnologias.

O Dia Mundial do Meio Ambiente acabou se tornando um espelho do nosso fracasso em tornar respeitável uma data que homenageia tudo o que nos rodeia. O que nos resta é trabalhar muito para que os nossos filhos ou netos ainda possam celebrar com festa este dia.