terça-feira, 17 de março de 2009

Fraternidade e democracia na vida e na política

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) vem promovendo desde dezembro de 1963 a sua Campanha da Fraternidade, que já tratou dos mais diversos temas da realidade brasileira focando em cada ano uma questão como objeto de estudo, debate e reflexão entre os católicos.

A Campanha já teve como tema inclusive a água, assunto tratado em 2004, quando se discutiu o risco da escassez e a necessidade da preservação dos nossos recursos hídricos.

A seriedade de cada Campanha acaba sendo bastante esclarecedora, estimulando a participação da população em geral no debate dos problemas brasileiros e contribuindo sobremaneira para a conscientização de todos. Ao destacar um determinado tema em atividades que envolvem os católicos de todo o Brasil, o assunto também acaba se tornando pauta jornalística, merecendo a atenção de jornais, revistas, rádio, televisão e agora também os blogs e sites da internet.

Como a CNBB frisa em seu site na internet, suas Campanhas tem como objetivo permanente despertar o espírito comunitário na busca do bem comum, estimulando a consciência de todos em vista de uma sociedade justa e solidária.

O tema da Campanha deste ano foi “Fraternidade e Segurança Pública”, assunto dos mais pertinentes em um país como o nosso que sofre muito com os problemas da injustiça e da insegurança.

A violência avança por todo o país. Agora o problema existe até nas pequenas cidades, com as pessoas sendo obrigadas a cercar de grades suas residências como antes só acontecia nas grandes cidades.

O problema é de tal ordem que uma cidade como o Rio de Janeiro, historicamente conhecida pela cordialidade de seu povo, tem no momento grande parte de sua população sob o domínio de milícias armadas, formadas por bandidos, ex-policiais e até policiais da ativa. Cerca de 20% de suas comunidades estão dominadas por bandos armados, com poder sobre a vida pessoal dos moradores e usando o terror até para impor taxas sobre serviços essenciais como a venda de gás de cozinha.

A ausência oraticamente total do Estado acabou criando um poder paralelo que reina acima das leis e da Constituição. A situação é tão grave que estes grupos já começaram a influir diretamente nas eleições, como ocorreu no ano passado na Rocinha, uma das maiores favelas do rio, onde o tráfico e milícias armadas usaram o terror para forçar a comunidade a votar em candidatos ligados ao crime e impedir o acesso de outros candidatos à favela.

A relação do crime com a política também já se exerce em vários cantos do país em ameaças de morte a religiosos, lideranças políticas, promotores públicos, sindicalistas e parlamentares progressistas.

Esta é uma das faces mais perigosas da violência. Quando aliados ao crime os poderosos começam a instalar o medo para evitar que o debate democrático e a justiça sejam os condutores da vida nas comunidades, tal situação é prenúncio de grave desestabilização social, que pode chegar ao caos com a total falência do Estado.

Esta é uma situação vivida atualmente pelo México, país em que a violência veio em um crescendo cada vez mais rápido até chegar ao ponto das organizações criminosas terem um poder maior em certos estados que o próprio governo federal.

Caso a violência não seja contida com urgência no Brasil, não seria alarmismo prever que a condição atual do México pode ser um panorama brasileiro bem provável em um amanhã bem próximo.

E para que o nosso país não experimente um futuro tão dramático é essencial agir com intensidade agora, fazendo da fraternidade um elemento destacado nas relações sociais e separando com vigor os homens e mulheres de bem daqueles que querem fazer do medo uma arma política.

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